Depois do parto
Depois da Lurdes nascer, e ainda na sala de partos, comecei a sentir uma dor localizada na barriga. Queixei-me à parteira, que me disse ser normal (é a contracção do útero) .
Fui para a enfermaria, e a dor persistia, cada vez mais forte. Vomitei sangue. Era hora da ronda, ia a passar uma enfermeira,chamei-a e queixei-me. Ela deu-me um ben-u-ron. A dor era cada vez mais forte. Toquei a campainha, pedi à auxiliar que chamasse alguém. Veio a minha enfermeira, ralhou comigo por eu ter tomado o brufen, e perguntou-me qual era a minha resistência à dor (!?).
Estava cada vez pior, gemia , gemia, remexia-me não me conseguia controlar. Deixei de sentir as pernas. Ela começou a assustar-se e foi-me observar. Estava a perder muito sangue.
Aqui foi vê-las correr. Ligou para a sala de partos, vieram 2 médicas a correr, disseram que eu tinha de ir imediatamente ao bloco.
Uma enfermeira veio buscar a minha filha, disse-me "não se preocupe, eu fico com ela".
Eu estava desesperada. Nunca imaginei sofrer tanto. Levaram-me na cama pois eu não me consegui levantar.
Cheguei à sala de partos e lá estava a "minha parteira" , que me agarrou na mão e não me voltou a largar. Disse-me "ai que a sra. bem se tinha queixado"!
Viram-se doidas para me transferir para o bloco, tiveram de pegar em mim ao colo, lembro-me da anestesista mandar dar-me tramal, e outras coisas cujo nome não recordo.
Prepararam-me. Ligaram-me às máquinas (tensão , oxigénio...), puseram-me outro cateter, no outro braço. Lembro-me das luzes, no tecto, como nos filmes. Lembro-me da médica a desinfectar as mãos, como nos filmes. Lembro-me de estar muita genta na sala.
Da parteira, de mão dada comigo, me dizer, tente sossegar , para não adormecer nessa agitação. Aqui percebi que o sofrimento ia acabar, felizmente. E adormeci.
Acordei na enfermaria, a minha filha no berço, a bata enfiada só num braço, um saco de sangue a correr no outro braço.
A minha cunhada e enteada a minha espera.
Naquele momento sentia-me bem, comi (deram-me na boca).
A enfermeira veio observar-me . Chamou as médicas de novo, estava outra vez a perder muito sangue. As médicas vieram , colocaram-me 2 compressas (sim, nesse sítio que estão a pensar) , a enfermeira teve de me agarrar tal foram as dores que tive.
2 horas mais tarde as médicas voltaram para ver se a hemorragia tinha parado. Tinha. Felizmente. A médica disse "ainda bem, que aí já não dá para coser mais."
Conclusão: fui ao bloco para ser aberta , para repararem o que estava mal e provocou a hemorragia, e fui novamente ressoturada. Foi terrivel. Só aqui percebi que tinha estado mal. Muito mal.
Todas as enfermeiras, auxiliares , pediatras, enfiam toda a gente me conhecia e nos dias em que estive internada vieram visitar-me.
Fiquei com a nádega toda negra, bolhas de sangue no anús, estive 3 semanas sem me sentar e depois disso só com o "donut". Tinha muitas dores. Colocava gelo 6 vezes por dia, tomava antibiótico na veia, vários anti-inflamatórios, ferro, etc. Tinha que amamentar e comer em pé, pois só conseguia estar deitada de barriga para baixo, tal era o inchaço.
Estava com um aspecto assustador.
Quando fui a minha médica , quase uma semana depois do parto, ela disse que nunca tinha visto nada assim. E acreditem que ela já viu muitas, muitas, muitas recém-mamãs!
Sai da maternidade a tomar 16 comprimidos por dia.
Com um bebé recém-nascido, prematuro, muito pequeno.
Um filho com 6 anos que iniciou a escola primária no dia seguinte ao nascimento da irmã.
Foi muito dificil.
O meu marido esteve 3 semanas em casa comigo , uma vez que não temos familiares por perto para me ajudarem. Uma amiga foi várias vezes passar a ferro, ajudar com as compras. Levar-me ao médico. A mesma amiga que me tinha levado a maternidade . Até as vizinhas ajudaram, sobretudo com a roupa.
Ainda hoje tenho sequelas. Dores, muitas. Talvez tenha de ir ao bloco outra vez.
Nunca soube ao certo o que aconteceu. Falaram-me em restos de placenta, em vasos mal cosidos.
Provavelmente vou pedir a consulta do meu processo.
Mas duvido que vá lá descobrir alguma coisa.
Felizmente, trouxe a minha filha comigo.
E felizmente, isto não costuma acontecer.
Barbie