Trabalho a tempo parcial
Ontem fui chamada pela Fátima a dar a minha opinião sobre este tema. Ela postou sobre o assunto e pediu-me para dizer de minha justiça. Eu já tinha lido a notícia e fiquei um bocadinho naquele estado de espírito do "nem sim, nem sopas", ou seja, arquivei o assunto para depois me debruçar melhor sobre ele. Preparem-se que o post vai ser longo.
Os portugueses têm cada vez menos filhos. Todos nós sabemos isso, as estatísticas dizem-nos isso, a concertação também não ajuda e qualquer dia não há cá ninguém a morar, de tal modo as coisas estão. São feitos cortes a torto e a direito, quem pouco tem cada vez tem menos, já os mais abastados continuam na mesma. Com a crise muitos de nós foram forçados a repensar modos de vida, o que até tem o seu lado positivo para quem tinha hábitos de consumo desenfreados e viu-se obrigado a reduzir os gastos. Por outro lado, há quem ainda não tenha caído "na real" e continue a viver à grande e à francesa, ou melhor dizendo, à portuguesa. Bem, mas eu queria mesmo falar do artigo.
Como sabem eu fiquei desempregada durante a gravidez e assim continuo. Pude assim ficar com a Pinypon em casa no primeiro ano, depois dos primeiros 5 meses da licença de maternidade, e evitar colocá-la numa creche. Não tendo ainda arranjado emprego, continuo em casa com ela, visto que para além disso, não tinhamos vaga na creche pública. Aproveito também para dizer que isto das creches é uma pouca vergonha, há poucas e poucas vagas. Quem tem um rendimento familiar acima de 1000€ é considerado rico e paga, mesmo numa creche pública, perto de 240€ por mês. Portanto, a maior parte dos pais não tem alternativa senão escolher uma creche privada em que os preços se situam em média acima dos 300€. Isto é o equivalente a uma renda, por exemplo.
Do meu ponto de vista, um bébé aos 5 meses é muito pequeno para ir para a creche. Mas, não havendo alternativas, tem mesmo de ser. A não ser que os pais tenham flexibilidade de horários. E o que é isso da flexibilidade de horários? Por exemplo, a mãe no primeiro ano tem direito a redução de horário em 2h por dia, devido à alimentação do lactente. Ora essas 2h podem ser tiradas seguidas e assim a mãe pode sair mais cedo do trabalho. O ideal seria que o nosso código do trabalho permitisse aos progenitores o trabalho em part-time se assim o entendessem para poderem dar assistência aos filhos nos primeiros anos. Ou até que pudessem trabalhar a partir de casa. Ou seja, mais FLEXIBILIDADE.
Agora, em relação a esta nova medida anunciada. ESTÁ TUDO LOUCO? Mas então estamos em contenção e o Estado vai agora pagar para os pais ficarem a meio gás em casa. O Estado, como quem diz. NÓS VAMOS PAGAR!!! NÓS!!!
Não concordo e é mais uma medida para encher chouriços. Sim, podia haver mais flexibilidade, sim os pais podiam ter a opção de trabalhar a part-time, mas receberiam consoante isso. Querem ver que a malta vai desatar a ter filhos só para ganhar o mesmo e trabalhar metade?
Continuo a bater na mesma tecla. Precisamos de mudar a mentalidade deste país. Precisamos de políticas sociais acertadas e ajustadas à nossa realidade, investir em equipamentos e medidas de apoio à natalidade e às famílias. Precisamos de patrões que compreendam a maternidade e a paternidade. Precisamos de políticas familiares. Precisamos de deixar de andar em rebanho e começarmos a (re)construir um país em condições. E sobretudo precisamos de governantes que deixem de pensar que seremos a próxima Suécia, quando estamos mais perto de um país do 3º mundo.
xoxo
cindy