Agora escolha: escrava ou empregada?
Sexta-feira foi o Dia da Mulher e durante o dia foram-se lendo e vendo várias manifestações a favor ou contra o dia. Que o dia existe porque ainda há desigualdades entre homens e mulheres, não há dúvida. Que não devemos (apenas) encarar o dia como dia de soltura para ir numa ladies night com as amigas e para receber flores e chocolates.
Segundo um estudo, ainda precisaremos de 200 anos para que as desigualdades se extingam. É muito tempo! E desengane-se quem acha que nós queremos ser iguais aos homens. Não é isso que está em causa, mas sim ter os mesmos direitos e deveres, as mesmas oportunidades. Numa altura em que tanto se fala em violência doméstica e no número de mulheres que foram mortas às mãos dos companheiros, maridos ou ex-maridos, faz todo o sentido que lutemos por nós e que deixemos de compactuar com uma sociedade machista de uma vez por todas que em vez de proteger as vítimas, protege os agressores.
E com estes temas ainda quentes, nada como a estreia de dois programas televisivos de elevado conteúdo machista, “Quem Quer Casar Com o Meu Filho”, da TVI, e “Quem Quer Namorar Com o Agricultor”, da SIC. Habitualmente, não consumo este género mas perante o que fui lendo ontem, tive de ir espreitar. Dois programas em que os protagonistas procuram supostamente ao amor, eu atrevo-me a dizer que procuram empregadas e escravas. Pior, temos as mãezinhas a perpetuarem uma imagem feminina e masculina que já deveria estar mais que ultrapassada. Para elas, as candidatas têm de saber cozinhar, limpar e só faltava dizer satisfazer o filho. Já eles, não têm de saber estrelar um ovo. São estes os filhos que andamos a criar? Uns incapazes que continuam a precisar de um elemento feminino que trate deles? Para isso, têm a mãe, não precisam duma companheira.
Lixo televisivo e vergonha deste país.